Em um universo povoado por matéria e energia amplamente aleatórias, as células vivas constituem uma rara exceção: cada uma das 37 trilhões que compõem o corpo humano age como uma usina precisa, convertendo energia química em movimento. É essa força “invisível” que, ao longo da história, tem conectado a matéria inerte aos sistemas produtivos — pois sem ela a cadeira não sairia do lugar, o veículo ficaria parado e nenhum processo de produção, transporte, comércio ou consumo aconteceria. Durante 96% do percurso humano, havia apenas cerca de dez mil pessoas, cada uma suprindo suas células para atender às próprias necessidades de sobrevivência. Mas, nos últimos 4% — com o advento da agricultura — tudo se inverteu: a energia vital de cada indivíduo passou a ser canalizada para estruturas sociais cada vez mais complexas, resultando em um salto populacional que ultrapassou 8,2 bilhões em março de 2025. Nesse cenário, o “trabalho biológico obrigatório” deixou de beneficiar diretamente quem o executa, tornando-se a engrenagem essencial de uma economia voltada à acumulação e à expansão de poder. Neste livro, João Carlos Orquiza explica como esse redirecionamento da “moeda energética” interna de cada corpo trouxe prosperidade material — mas a quem realmente interessa? E qual é o custo humano de tanta prosperidade? Ao unir reflexões de biologia, economia e história, O preço da vida: seu trabalho, sua energia, o verdadeiro motor da economia mundial questiona por que a potência celular que move a matéria continua obscurecida por indicadores financeiros e ficções de mercado. Em linguagem acessível, mas rigorosa, a obra convida o leitor a refletir sobre o preço exato que pagamos para manter o crescimento de um sistema que depende, em última instância, da energia invisível de bilhões de corpos. Esse é o desafio de enxergar, além dos números e das promessas de progresso, quem ganha, quem perde e como resgatar o valor genuíno — outrora inquestionável — do trabalho biológico de cada ser humano.